19 de janeiro de 2016

Spotlight

Horror Oculto

Dir: Tom McCarthy, EUA, 2015, 2h08min
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Spotlight é um dos mais fortes concorrentes ao Oscar de melhor filme, tendo vencido em um dos "termômetros" da premiação, o Critics´ Choice, além de diversos prêmios menores. Também está indicado nas categorias de direção, roteiro original, ator coadjuvante, atriz coadjuvante e edição.

O filme trata da investigação jornalística do jornal The Boston Globe, através de sua equipe de investigações aprofundadas, a Spotlight, de uma série de casos de abusos infantis por padres que revelou ao mundo ser essa não apenas uma prática localizada mas um escândalo global acobertado pelo alto clero.

O ponto alto da estória é não transformar um caso tão sério em uma estória de vilões e de heróis. O filme mostra que o maior problema não era o de haver alguns padres degenerados que abusavam de crianças, mas o fato da igreja católica acobertar seus atos, sempre abafando os casos por meio de transferências para outras paróquias ou por licenças-saúde. E tudo isso em meio a cumplicidade da sociedade bostoniana, que preferia olhar para o outro lado quando sabia que havia algo de podre no ar.

O roteiro de Josh Singer e do também diretor Tom McCarthy é um dos destaques do filme. Um tema, por mais interessante que possa ser, pode ser mal trabalhado. No caso do filme, o tema poderia facilmente ter gerado um dramalhão sobre o sofrimentos das vítimas. Mas não é o que ocorre. O sofrimento é mostrado de maneira crua, sem necessidade de recursos narrativos como câmeras lentas ou músicas dramáticas. Os dramas pessoais são apresentados sem pudor, com descrições claras de como os padres se aproveitavam das crianças mais vulneráveis, normalmente provenientes de lares problemáticos. Mas o filme nunca perde o foco da questão institucional. 

O diferencial do trabalho da Spotlight foi ter descoberto todos os padres suspeitos de crimes sexuais, o que fizeram através da minuciosa leitura dos extensos catálogos de movimentação do clero, onde constavam todos os dados de transferências e licenças dos religiosos, como dito, expedientes utilizados pela igreja para abafar os casos. Esse grande trabalho de formiguinha é bem mostrado no filme, de maneira enxuta.

O filme, como é normal em filmes que envolvem jornalistas (nessa linha temos o clássico Todos os Homens do Presidente), conta com as tradicionais cenas com pessoas conversando enquanto andam apressadas pelas redações de jornais, e com muitos diálogos falados de maneira rápida. Também é interessante que o filme trata de maneira tangencial no tema da sobrevivência dos jornais em um mundo que caminhava para a mídia digital no começo dos anos 2000, assim como que a pauta jornalística pode ser fortemente afetada por um fato bombástico, como o 11 de Setembro, que ocorre durante as investigações e as suspende por um tempo. 

Importante destacar que o filme não vai para o lado simplista de dizer que o problema é a existência da religião, como muitos têm feito quando atribuem a culpa pelo terrorismo fanático de grupos como o Estado Islâmico à existência do Islã (Não é, Donald Trump?). O filme é sério e deixa localizado o problema entre seus responsáveis, sem deixar de apontar a mencionada covardia da sociedade que suspeitava do problema mas fingia ignorar, algo semelhante ao que fez a sociedade alemã da época do nazismo em relação à questão judaica.  

Outro destaque são as excelentes atuações. Não há exatamente um protagonista, mas Michael Keaton e Mark Ruffalo têm um pouco mais de destaque que os demais personagens. Ambos estão excelentes e qualquer deles merecia a indicação ao Oscar, que ficou para Ruffalo, que faz um jornalista determinado mas bastante impulsivo e atrapalhado, servindo até mesmo para um bem colocado alívio cômico. Se o prêmio dependesse somente do mérito, ele seria fortíssimo candidato à vitória. Rachel McAdams também foi indicada e faz um bom trabalho, mas seu papel tem importância um pouco menor na trama, sendo a personagem que mais se envolve, ainda que de forma muito contida, com as dores das vítimas e dos católicos que tentavam ignorar a verdade. Mesmo os personagens pequenos se destacam, sobretudo os atores desconhecidos que interpretaram as vítimas.

Somente por conta da direção de atores Tom McCarthy já faz jus à sua indicação ao Oscar. Mas, além disso, todos os outros elementos do filme estão bem colocados, como a fotografia e a edição, sem que esses roubem o espaço do ótimo roteiro.

Spotlight é um ótimo filme, que prende a atenção do espectador e o leva junto com a equipe na descoberta da verdade ao longo de suas 2 horas de projeção. Todas as peças funcionam bem, sobretudo as mais importantes, roteiro, atuações e direção, merecendo suas indicações ao Oscar.

Nota: 9

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