2 de fevereiro de 2017

Estrelas Além do Tempo

Figuras escondidas

Hidden Figures, Dir: Theodore Melfi, EUA, 2016, 2h06min
IMDB                 Trailer


É comum que se diga que histórias reais grandiosas mereçam um filme. O problema é que quase sempre esse filme é bem quadradinho. É o que temos em Estrelas Além do Tempo (ah, esses títulos "poéticos" em "brasileiro").

A trama narra a história de três mulheres negras que fizeram carreiras de sucesso na NASA. O filme delimita-se (corretamente) a mostrar apenas o início de suas trajetórias em 1961, período do início da corrida espacial e também da luta pelos direitos civis.

Como já colocado em diversos outros pitacos (especialmente os que tratam de filmes que tem por tema alvos de preconceito), um tema pode ser ótimo e a história pode ser péssima. A trajetória de sucesso dessas mulheres realmente é admirável. Mas os contadores da história são terríveis.

Tudo em um filme começa no roteiro. E o do filme é apenas um amontoado de clichês e pieguice, que parte da premissa de que o público é burro e que tudo, absolutamente tudo, tem de ser explicado de forma que uma criança entenda (muitos filmes infantis são mais sutis). Tudo é colocado de maneira muito direta, excessivamente didática, com a sutileza de um elefante. Parece que foi escrito por aquela professora chata que levanta a voz e diz "isso é importante". O tempo todo. Há aqueles "discursos inspirados" em que todos param o que estão fazendo para ouvir uma pessoa se queixando da injustiça. Há cenas ilustrativas para os preconceitos, como o fato de uma das protagonistas não poder compartilhar a cafeteira com seus colegas de equipe. E há cenas até repetitivas, como a protagonista correndo toda desequilibrada para ir ao banheiro de negras que ficava longe de sua sala. E o pouco de humor que o filme tenta colocar não funciona. A única coisa louvável no roteiro é mostrar que o racismo era disseminado e que os negros, independentemente de seu talento, eram tidos como cidadãos de segunda classe. Absurdamente, esta narrativa sem qualquer sutileza ou criatividade foi indicada ao Oscar de roteiro adaptado.

Com um roteiro desses não se pode exigir muito do elenco. E realmente o filme consegue fazer com que quase todos os atores atuem de forma dura. A única que consegue mostrar um pouco de talento é a protagonista Taraji P. Henson. Jim Parsons faz apenas uma versão um pouco mais sociável de seu Sheldon de The Big Bang Theory. Até mesmo o bom Mahershala Ali (que é quase certo que vai ganhar o Oscar de coadjuvante por Moonlight) atua em piloto automático aqui. O mesmo vale para Kevin Costner e Kirsten Dunst. E Octavia Spencer não justifica de forma alguma sua indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante.

A parte técnica também não foge dos clichês e da falta de sutileza. E isso começa logo no início, na transição da cena inicial da infância da protagonista em cores amareladas mudando para um colorido vivo durante uma panorâmica com movimento de câmera para destacar a mudança de tempo. A cenografia é bem pobre, com cenários da NASA parecendo que foram construídas pelos cenógrafos de novelas brasileiras que fazem com que tudo pareça estar arrumadinho. E há até um anacronismo politicamente correto, pois em salas lotadas da NASA de 1961 não há ninguém fumando. 

É comum que filmes medianos sejam indicados ao Oscar, como Philomena e O Jogo da Imitação. Alguns até ganham o prêmio principal, como O Discurso do Rei. Mas Estrelas Além do Tempo não é mediano, é ruim, fazendo com que suas três indicações (filme, roteiro adaptado e atriz coadjuvante) soem todas como piadas. Assim fica parecendo que as indicações são uma reação ao tão merecidamente criticado #OscarSoWhite do ano passado, e o que é pior, faz parecer um favor condescendente aos negros. E neste ano era completamente desnecessário tal favor, tendo em vista que há outros filmes de temática negra na disputa (Um Limite Entre Nós e Moonlight) e de que negros foram indicados a melhor ator em todas as categorias.

Estrelas Além do Tempo quer contar uma história bonita. Mas o faz de forma bobinha, parecendo ser contado para criancinhas. Talvez agrade aos fãs de filminhos água com açúcar da Sessão da Tarde. Um dos piores filmes já indicados ao Oscar. Deveria concorrer ao Framboesa de Ouro.

Nota: 3

Um comentário :

  1. Taraji P. Henson é uma ótima atriz, é muito talentosa e bonita, não há filme que não me surpreenda. Ainda não tive oportunidade de ver o filme, mas muita gente já me recomendou. Eu amo os filmes, especialmente onde participa Taraji P. Henson lembro dos seus papeis iniciais, em comparação com os seus filmes atuais, e vejo muita evolução, mostra personagens com maior seguridade e que enchem de emoções ao expectador. Eu recomendo em Proud Mary, é um dos melhores filmes de ação Desfrutei muito sua atuação. A historia está bem estruturada, o final é o melhor. Se ainda não tiveram a oportunidade de vê-lo, eu recomendo. Adorei!

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